Reference: Índices, critérios e avaliações da DDI
Reference information: A doença de Crohn, devido à possibilidade de atingir todo o tubo digestivo, tem tido classificações com uma base anatómica conforme com o segmento intestinal doente. Assim há doença de Crohn peri-anal, cólica e ileo-cólica conforme atinge a região ano-rectal, só o cólon ou o cólon e a porção final do intestino delgado. Pode também ser só ileal, jejunal, e assim sucessivamente, conforme o órgão atingido. Para além da classificação anatómica, a doença de Crohn pode também, em qualquer localização, causar preferencialmente zonas de estreitamento do intestino (estenoses) ou fístulas. Este “comportamento” da doença de Crohn permite classificá-la em doença “estenosante” ou “fistulizante”. A Colite Ulcerosa, por seu lado, pode também atingir diferentes segmentos do cólon, mas de uma forma que progride “de baixo para cima” por assim dizer. Teremos então a “proctite” (se só abrange o recto), a “procto-sigmoidite” (se chega ao cólon sigmoideu) e a “colite esquerda” (se inclui o cólon esquerdo); se a doença atinge maior extensão designa-se por “colite extensa” e se inclui todo o cólon chama-se-lhe “colite total” ou “pan-colite”. Estas classificações com base anatómica são de extrema utilidade para os médicos. Uma doença com determinada localização apresenta frequentemente os mesmos problemas, e isso permite prever complicações e preparar planos de tratamento mais padronizados para determinadas situações. Por exemplo, os doentes de Colite Ulcerosa que tenham a doença limitada ao recto (“proctite”) têm geralmente uma evolução da doença com poucas complicações, respondem bem aos tratamentos locais (com supositórios e clisteres de retenção) e raramente necessitam de cirurgia. Ainda outro exemplo: espera-se que a Doença de Crohn “cólica” e “estenosante” tenha episódios de oclusão intestinal, que cause dores abdominais e que possa vir a necessitar de cirurgia, se os sintomas o justificarem. Apesar da sua utilidade, estas classificações com base nos órgãos atingidos pela doença ainda é insuficiente. A mesma localização da doença, em dois doentes diferentes, pode ter diferentes sinais de gravidade. Por isso se tenta classificar em ligeiras, moderadas ou graves as formas que a doença apresenta em cada doente. Estas classificações fazem-se com base em “Índices”. O que são então os índices de actividade? São classificações de manifestações da doença que convertem essas manifestações em “pontos” de acordo com a sua intensidade e importância. No caso da Doença de Crohn a classificação mais rigorosa é o “Crohn’s Disease Activity Index”, conhecido por CDAI, que classifica a doença a partir das suas manifestações durante a semana antecedente. Usa, por exemplo, o número de dejecções líquidas, a intensidade da dor abdominal, o mal estar geral, a presença de complicações. Cada um destes critérios recebe uma pontuação, a partir da qual se faz uma soma. O valor final obtido permitirá classificar a doença. Um valor final de 150 ou menos é indicativo de doença inactiva ou com actividade ligeira. Se a doença estiver activa, os valores deste índice sobem acima dos 150 pontos, podendo ir além dos 450 pontos. O CDAI é trabalhoso de calcular pois obriga a registar vários factos num formulário na semana antecedente. Um índice mais simples de aplicar é o Índice de Harvey- Brashaw, baseado em cinco pontos : Bem-estar, dor, número de dejecções líquidas, presença de complicações e presença de massa abdominal detectada no exame médico. Na Colite Ulcerosa é utilizada já há décadas a classificação de Truelove e Witts, com base em manifestações clínicas (diarreia, febre, aceleração do rtmo cardíaco, etc) e laboratoriais. Esta classificação permite classificar a gravidade da Colite Ulcerosa. Há ainda outras classificações baseadas em índices obtidos por colonoscopia (classificações endoscópicas ou índices endoscópicos), tanto para a Colite Ulcerosa como para a Doença de Crohn. Estes índices, como foi dito, permitem ao médico incluir cada doente, numa determinada fase da sua doença, num grupo de doentes com características semelhantes e cujo prognóstico é conhecido. O uso de índices facilita assim a orientação terapêutica, seja ela a escolha de um medicamento, seja uma decisão cirúrgica. Por outro lado o uso de índices permite seguir a evolução de um doente ao longo do tempo, e ter uma ideia quantitativa (pelo menos aproximada) das suas melhorias e do seu prognóstico. Igualmente importante, embora de um modo menos imediato, é a utilização de índices em ensaios clínicos: só se podem comparar tratamentos em grupos de doentes se os grupos de doentes forem comparáveis, isto é, se tiverem doença com extensão e gravidade semelhantes. Por isso nos ensaios clínicos se agrupam os doentes de acordo com índices de actividade e/ou de severidade, e se ensaiam os tratamentos a comparar em grupos de doentes com características semelhantes. Não se surpreenda pois se o seu médico assistente lhe fizer determinadas perguntas, por uma certa ordem, e depois somar alguns valores derivados das respostas dadas. Estará a calcular índices de gravidade ou de actividade da sua doença com vista a eventual modificação de tratamento. Se tiver sido incluído(a) num ensaio clínico – e esse facto deverá obrigatoriamente ter-lhe sido dito -, é quase certo que haverá determinações de índices de actividade durante o período do estudo. Num caso ou noutro, sugerimos que faça um esforço para colaborar da melhor forma possível. Muito provavelmente virá a beneficiar com isso. Dr. João de Freitas Gastrenterologista no Hospital Garcia de Orta - Almada
Reference: http://www.apdi.org.pt
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